sábado, 15 de dezembro de 2007

Oscar Niemeyer 100 anos



Trailer do documentário "A vida é um sopro" realizado este ano.




Icone da arquitectura do séc. XX
Oscar Niemeyer, mais que um arquitecto, é um verdadeiro ícone cultural. E não só no seu país, mas no plano internacional. José Carlos Vasconcelos, director do 'JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias', em cuja edição mais recente o centenário do arquitecto é matéria de primeira página, assina um editorial no qual realça: "Poucas vezes, ao longo de toda a história da Humanidade, terá ocorrido este facto, em simultâneo tão raro e jubiloso, de se celebrar o centenário de um grande artista continuando ele a trabalhar e na plenitude da sua capacidade criativa".

Também o professor universitário Carlos Oliveira Santos, autor do livro 'O Nosso Niemeyer', lançado em 2001 e do qual ainda este ano foi lançada uma edição comemorativa, melhorada e aumentada, realçava, em Julho passado, ao nosso jornal a "genialidade incontornável" de Niemeyer, facilmente confirmada pelas "imensas obras encomendadas, e em preparação" que o arquitecto continua a ter hoje em dia. O facto de se ter conseguido "manter vivo esse monumento do modernismo" que é o Pestana Casino Park (alvo de uma remodelação dirigida pelo arquitecto Jaime Morais, também brasileiro, num investimento da ordem dos 15 milhões de euros) mereceu o seu aplauso. Carlos Oliveira Santos sublinha que "a Madeira deve estar muito feliz por ser a única região de Portugal a possuir um Niemeyer construído, permitindo-lhe assim comungar neste enorme movimento mundial gerado pelo seu 100º aniversário" e considera Oscar Niemeyer "um sinal da liberdade, da criação e da dimensão humanas".

"Até onde podemos ir como seres que desafiam a mediocridade, a mesquinhez, o obscurantismo? A vida - palavra onde se inclui a obra - de Niemeyer tem sido uma constantemente reafirmada resposta a isso. Pelo seu exemplo tão persistente, ele ajudou-nos a entender com mais profundidade a própria essência do modernismo, aquilo que lhe permitiria transcender os tempos e conquistar uma pureza intemporal, aquilo a que alguns chamam beleza". Editar o seu livro sobre Niemeyer foi, acrescenta, um contributo para despertar as consciências. No início da década de 80, recorda, chocou-o "a total ausência de reacção, em Portugal", aos edifícios niemeyerianos no Funchal, o "silêncio desprezível" a que os mesmos estavam votados, demonstrativo, em seu entender, de "mediocridade, mesquinhez e obscurantismo salazarengos".


Também o arquitecto madeirense Paulo David é um entusiasta confesso de Oscar Niemeyer. Ao DIÁRIO, realçou que a obra deste arquitecto é reveladora da ascensão do modernismo, do qual ele é um grande autor. "A sua obra é carregada de alma", refere, e reflecte a marca do povo brasileiro, estando intimamente associada "a uma condição humana". Caracterizada por uma "sensualidade das formas" muito própria, esta arquitectura "de dimensão quase única" exprime a crença "de que a beleza vai melhorar a vida dos homens, de que o homem poderá ser perfeito", na assumpção plena de um pensamento que é quase ideológico.

Paulo David recorda com emoção o seu primeiro contacto, ainda na adolescência, com o hotel e casino projectados para o Funchal por Niemeyer, e que, assume, provavelmente o influenciaram decisivamente na escolha da carreira de arquitecto. "Sinto-me privilegiado por viver numa cidade onde é possível a contemplação de uma obra de Oscar Niemeyer", diz. Obra que considera um verdadeiro ícone da nossa urbe, e que "ganha novo sentido" nos dias de hoje.

"Fiquei fascinado quando a vi pela primeira vez - particularmente com a espacialidade dos interiores". Mais tarde, teve a oportunidade de mostrá-la a Siza Vieira, outro "mestre da arquitectura" que se deixou seduzir pela criação de Niemeyer na Madeira. "É o único edifício que mostra um entendimento forte da escala da baía do Funchal", mas concretizado sem soberba, de forma "subtil e sensual".


Convite feito a rigo
Três madeirenses foram recebidos no passado mês de Julho por Óscar Niemeyer no seu gabinete em Copacabana: Luís Guilherme de Nóbrega, então coordenador de exposições no Centro das Artes Casa das Mudas, o artista plástico madeirense Rigo e o presidente da Câmara da Calheta, Manuel Baeta. Foram cerca de 25 minutos de conversa acerca da exposição de Rigo no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (desenhado por Niemeyer), inaugurada a 25 de Agosto e que incluiu uma obra executada em calçada portuguesa, dedicada ao grande arquitecto. Tanto Luís Guilherme como Rigo recordaram-nos a amabilidade com que foram acolhidos. "Ele gostou muito do trabalho do Rigo, e convidou-o a realizar uma intervenção artística num dos seus projectos futuros", garante Luís Guilherme. O arquitecto disse na altura ter passado pelo Funchal num navio, quando o Casino estava em construção. Tê-lo-á tentado visitar, mas teve dificuldades: os responsáveis da obra não o levaram a sério quando disse que era o autor do projecto, contou-nos Guilherme.

Luís Rocha
in, Diário de Noticias - Madeira

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